Esboço de mim mesma

Num sábado de madrugada, perguntavam-me se era feliz. Tive raiva de mim mesma, porque vacilei na resposta. Porque as lágrimas apareceram. Porque não sentia dentro de mim uma resposta clara. E tu sabias disso. E foi por isso que o perguntaste, claro. Tenho raiva também do facto de me conheceres assim tão bem. Como vacilei, passei a semana a pensar na questão. E como tudo na vida, a resposta apareceu mesmo à frente dos meus olhos. Estilo, toma lá menina, para aprenderes a não duvidares. Durante a semana preenchida pela loucura do trabalho, tive feedbacks claramente positivos, onde sinto que vão confiando no que faço e nas perguntas que vou colocando. Depois dos dias pesados de trabalho na agência, chegava a casa e todas as noites tive pessoas ao meu lado a preencher os jantares e as conversas nocturnas. Partilhas que fortalecem as amizades que são importantes. A família apareceu em forma de irmã instalada aqui na casa de Lisboa. O carinho da mãe e do pai sempre presente. No sábado a seguir à pergunta, lia numa entrevista de alguém que estava em projecto de si mesma, e é isso mesmo que eu sinto. Que estou num esboço de mim mesma. E que isso é bom. Quer dizer que estou focada em metas, objectivos, mas de coração quente e mente sossegada. Que o facto de ainda não ter tudo o que preciso para ser feliz por completo, não é necessariamente uma coisa má. Pelo contrário, quer dizer que estou em fase de construção e isso é uma coisa boa. Estarmos a caminho é mais interessante do que chegar, sempre! Então meu amigo M. se sou feliz? Sou sim e desta vez com toda a convicção que faltou naquela madrugada.